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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O colarinho cor-de-rosa


Na vida nada é simples. Nada é a preto e branco.
A vida é tão pródiga de contrastes como as delicadas, complexas e infinitas variações tonais do cinzento. A vida é uma intrincada sinfonia de cinzas. Uma grisalha solene.
Em Portugal, a pobreza aumenta de forma inaudita (há quase dois milhões de pessoas que vivem abaixo do limiar da decência e da dignidade).
Os índices de corrupção aumentam. Segundo alguém que sabe, isto deve-se (entre outras causas) à não aprovação, pelo partido do governo, do pacote de medidas contra os crimes de colarinho branco, propostas pelo então deputado João Cravinho.
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Contudo no que concerne a este fenómeno subsistem algumas perplexidades…
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O Orçamento do estado para 2009 prevê um aumento de 3,2% das despesas com as reformas vitalícias dos senhores deputados e outros devotados ex-titulares de cargos públicos.
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Mas entretanto o nosso super-herói está reformado. O paladino da luta contra os crimes do malvado Colarinho Branco aposentou-se. Quando decidiu interromper o seu apostolado e aceitar um lugar no Banco de Cooperação e Desenvolvimento, decidiu também pedir, antecipada, a sua vitalícia reforma de servidor do estado.
É assim.
A vida nunca é tão linear como um simples desenho, a preto sobre branco. Mesmo que rematado de cor-de-rosa.
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