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sexta-feira, 19 de maio de 2017

uma campanha alegre,

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A recente campanha de márquetingue lançada pla câmara Municipal da Figueira da Foz, que "inclui um novo logotipo para acções de divulgação turística", é o mais acabado exemplo de desfaçatez, cara-de-pau, falta de jeito, de graça  e de ideias próprias que me foi dado assistir nos últimos tempos. Um autêntico caso clínico da mais cínica e disparatada  palermice armada aos cágados. Elaborada por uma "empresa especializada", esta bizantina e patética campanha pretende demonstrar aos próprios figueirenses, em linguagem totalmente cifrada para estranhos, que "a Figueira é diversa" e que "acaba por ser de todos e para todos". A coisa atinge o cúmulo da bizarria porque, ao que li, parece que pretende ser de âmbito nacional. É um pouco como se, para promover as delícias do deserto, a Namíbia fizesse o marquetingue da coisa inteiramente em Khoisan (a língua local, aquela dos cliques).
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Acontece que "de todos e para todos", apesar de até nem ser muito original, foi precisamente o slogan que a Coligação Democrática Unitária (CDU) apresentou em 2013, na última campanha autárquica.
Não pretendendo exprimir-me em nome da coligação que então representei como independente (tão garbosamente que tornaram a convidar-me este ano) atrevo-me contudo a dizer que esta apropriação de um slogan de campanha não me choca nem um bocadinho. A verdade é que a rapaziada não tem grande apreço por conceitos como propriedade privada (sobretudo de meios de produção). Gostamos de partilhar. Por isso mesmo, e pla parte que me toca, quero registar o meu lamento por a Câmara Municipal se ter ficado apenas pelo slogan. E lavrar o meu mais pungente e veemente protesto por que não se tenha apropriado também do programa.
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Acontece também que a coisa não ficou apenas por aqui. Nessa campanha, em 2013, permiti-me (no meu blogue pessoal, este mesmo), e sem comprometer a coligação pela qual me batia, fazer a minha própria campanha pessoal - à minha maneira, nãseissestãoaver. A ideia era contribuir para o esclarecimento dos que me visitavam levando-os a votar ou a  não votar na coligação que representava. Como não sei botar discurso fiz o que sei, que é desenhar, escrever, cortar, colar, juntar, montar. Assim elaborei umas quantas vinhetas, uma por dia, tantas quantos os dias da campanha. Coisas simples e despretensiosas, nas quais me diverti avacalhando solene e regaladamente alguns conceitos ou valores muito apreciados pelo gosto dominante na Figueira, tais como o casino, a misericórdia, o respeitinho, a obra-feita, a conveniência ou o eufemismo. Como esta, esta, esta, esta, esta ou esta; mas atentem sobretudo nesta.
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Se o conceito e o argumento vos parecerem familiares, espero que se juntem a mim num lamento. É verdade que o plágio, a citação ou a cópia são formas de homenagem; Leonardo dizia mesmo aos seus pupilos: "copiai, copiai, meus lindos; copiar é já aprender". Mas não há nada mais triste e humilhante do que ser-se homenageado por imbecis; e constrangedor, porque à custa do erário público.
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1 comentário:

CeterisParibus disse...

Além de todos os problemas que apontou, ainda por cima nem a copiar são competentes.